Aluna da rede estadual denuncia omissão de escola após sofrer intolerância religiosa

Foto de Luiz Felipe Fernandez

Luiz Felipe Fernandez

Salvador

14 de março de 2022 às 16h51

 | 

Foto: Claudionor Jr./Ascom

Imagem de Aluna da rede estadual denuncia omissão de escola após sofrer intolerância religiosa

Uma aluna do ensino médio do Colégio Estadual do Ypiranga, no bairro Dois de Julho, em Salvador, denunciou ao Portal Salvador FM a omissão da direção da escola, após reclamar, repetidamente, de ser alvo de intolerância religiosa por outra estudante.

Segundo relato da estudante, a perseguição começou ainda em 2019. Em um dos episódios, a suposta agressora, que é evangélica, quebrou o celular da aluna que é adepta do Candomblé. O caso mais recente ocorreu na última quarta-feira (9), quando a vítima diz que a aluna ameaçou arrancar seus "fiozinhos", em referência às guias que usava - dizendo que não tinham serventia - e o seu Ojá de Yawo, uma espécie de turbante branco.

"Ela disse que eu tinha que adorar a Deus, não ao Satanás. Eu fiquei revoltada e falei para ela vir tirar. Ela simplesmente saiu dando risada", relatou a jovem, identificada como D.B.M, estudante do 1° Ano do Ensino Médio do colégio da rede estadual.

A situação, segundo a aluna, foi levada aos professores de Geografia, Física e Química, e, em seguida, à diretora da escola. A resposta foi de que nada poderia ser feito sem provas.

Com a informação, a aluna, do terreiro Ilê Asé Ojise Olodumaré, localizado na região metropolitana da cidade, decidiu tentar filmar as ofensas com o celular, mas foi repreendida pelos professores que alertaram que era proibido gravar a imagens de outras pessoas sem autorização.

Ela relata que os docentes a ameaçaram de suspensão se continuasse filmando.

Apesar dos avisos, a jovem conseguiu gravar parte da conversa com dois professores da escola que tratam da situação da gravação e do caso de intolerância.

Medidas judiciais
Inconformada, a mãe da vítima, que preferiu não se identificar, se negou a voltar à escola e disse que levará a situação à Justiça comum. À reportagem, ela informou que já está sendo acompanhada por um advogado e que adotará as medidas cabíveis para lidar com o caso.

"A aluna é evangélica e já vem há muito tempo criando situações referentes à religião da minha filha, recém yaô feita. Fez ameaças de partir as guias, puxar o ojá da cabeça, rasgar as vestes brancas", disse ela. 

Em outras oportunidades, ela conversou com a mãe da outra aluna, que se comprometeu em convencê-la a parar com as agressões, mas nada aconteceu. Para piorar, segundo a mãe da vítima, não vê empenho na escola para resolver o impasse, e diz que a estudante que vem proferindo as ofensas chegou a pedir a expulsão da filha da instituição.

"A escola não se posiciona e diz que nada pode fazer. Minha filha foi novamente acuada, assediada, ameaçaram tomar o celular e tomaram, para não fazer nenhuma gravação e utilizar como prova. Virou graça hoje um filho de santo ser ameaçado e nada ser feito, pelo simples fato de estar cumprindo resguardo, de branco. A aluna está exigindo a expulsão da minha filha da escola somente por isso", lamentou.

Medo de retaliação
Desde a última agressão, D.B.M tem evitado ir para o colégio, com medo de retaliação. A suposta agressora mora perto da instituição, no bairro Dois de Julho, e a jovem teme que o caso se repita, desta vez, fora do ambiente escolar.

Em resposta ao portal, a Secretaria de Educação informou que "a direção da unidade escolar informa que já convidou as famílias das estudantes para o esclarecimento dos fatos".

Segundo a pasta, a instituição "ressalta que realiza ações pedagógicas de prevenção e combate a todo tipo de preconceito e discriminação, bem como de fomento e respeito à diversidade e à tolerância religiosa.

Logo da Rádio Salvador FM

Rádio Salvador FM