O ministro da Casa Civil e aliado do presidente Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira (PP) direcionou emenda no valor de R$ 240 mil para a compra de um caminhão de lixo fornecido pela empresa de uma amiga que frequenta o seu gabinete em Brasília.
Todo o processo para a chegada do recurso para a compra do veículo passou por aliados do governo, segundo informações do Estadão, que revelou neste domingo (22), um esquema de compras de caminhões de lixo superfaturadas em até 500%. O sobrepreço teria custado R$ 109,3 milhões aos cofres públicos.
Ciro Nogueira, antigo presidente do PP e senador licenciado, destinou a emenda para a cidade de Brasileira, no Piauí, seu estado natal, com pouco mais de 8 mil habitantes. O dinheiro é para a aquisição de um caminhão compactador de lixo.
O certame vencido pelo Grupo Mônaco, da amiga de Nogueira, permite a compra de até 40 caminhões de lixo, ao custo total de R$ 11,9 milhões. A superintendência da Codevasf no Piauí, que fez o pregão, é comandada desde abril de 2019 por Inaldo Guerra, apadrinhado do ministro da Casa Civil. Guerra foi o responsável por ratificar o resultado da licitação.
O pregão ocorreu em dezembro de 2020, quando Nogueira era senador. Os contatos com a empresária Carla Denardin, que já frequentava o seu gabinete, continuaram quando ele assumiu a chefia da Casa Civil, no ano passado.
A prefeitura de Brasileira, a 183 quilômetros de Teresina, é administrada por outra aliada de Nogueira, a prefeita Carmen Gean (Progressistas). Foi ela quem recorreu à ata da Codevasf-PI para comprar o caminhão. Entregue em abril deste ano, o mesmo veículo foi a estrela de dois eventos de inauguração, em menos de 15 dias.
A licitação vencida pela Mônaco Diesel foi realizada em 18 de dezembro de 2020, na modalidade pregão eletrônico (uma espécie de leilão invertido, no qual os lances vão se sucedendo e vence o fornecedor que oferecer o menor valor).
Cada um dos nove caminhões comprados pela Codevasf saiu por R$ 297,8 mil, conforme o valor licitado. Mas a máquina adquirida pela prefeitura de Brasileira, com a emenda de Nogueira, saiu mais cara: R$ 318.044,23. Ao inciarem as negociações, em março de 2020, o valor da contrapartida que deveria ser dado pela prefeitura de Brasileira era de R$ 16.250,00, de acordo com os documentos públicos do convênio. Quando a compra foi concluída, no início deste ano, o total desembolsado pela prefeitura tinha subido para R$ 79,2 mil.
A prefeita Carmen Gean justificou que o aumento do valor da compra teve o aval da Codevasf e não há nenhuma irregularidade.
